domingo, 12 de abril de 2009

Entenda a crise do crédito – confira os efeitos no Brasil

Por: Terra

Confira os principais acontecimentos da crise econômica, que começou com os empréstimos de risco nos Estados Unidos.

A Bolha do crédito
Um período de forte disponibilidade de recursos (liquidez) no mercado internacional gerou um esgotamento de clientes no segmento de financiamento imobiliário e hipotecas nos Estados Unidos. Com recursos sobrando e poucos consumidores com bom histórico de pagamentos disponíveis, os bancos passaram a emprestar dinheiro nestas modalidades a pessoas que tinham menos garantias

Os primeiros problemas
Os problemas para as instituições financeiras começaram no início de 2007, quando foram divulgadas as primeiras perdas com este tipo de negócio, frente às dificuldades para recuperar os empréstimos concedidos. Em março daquele ano, a associação de bancos hipotecários dos EUA apontou que a inadimplência no setor alcançou seu ponto mais alto em sete anos. Outro dado divulgado mostrou que os preços de imóveis no país registravam sua primeira queda anual desde 1996.
Além dos problemas nas instituições financeiras, a crise chegou às bolsas de valores já que estes mesmos bancos vendiam papéis atrelados aos ganhos com os empréstimos imobiliários. Com medo de perdas, houve uma corrida para resgatar o dinheiro aplicado nestes fundos e, conseqüentemente, uma preocupação se os bancos teriam condição de honrar os compromissos com os investidores em fuga.
Outro setor afetado pela crise foi o do ramo de seguros. Além das apólices imobiliárias, as seguradoras também protegiam os contratos de alto risco dos bancos de investimento no subprime, que perderam o valor e estão no foco da crise financeira.

Sucessão de quebras
Os primeiros reflexos nos bancos do agravamento da inadimplência no subprime começaram a ser vistos em abril de 2007, quando a New Century Financial, a maior empresa independente de crédito imobiliário subprime dos EUA, entrou com pedido de proteção contra falência e demitiu metade de seus funcionários. Em meados de março, a companhia já tinha parado de conceder financiamentos, abalada pelo aumento da inadimplência.
O repasse das dívidas da New Century para outras instituições financeiras começou a gerar um efeito cascata no setor. Ainda no mês de abril, o Citigroup anunciou perdas de US$ 5 bilhões no primeiro trimestre de 2007 e, em julho, o Bear Stearns decretou a falência de dois de seus fundos de investimento.
Em agosto, o banco francês PNB Paribas disse a seus investidores que eles não conseguiriam resgatar seus investimentos, devido à "completa evaporação da liquidez" do mercado, em um sinal claro de que os bancos estavam recusando-se a emprestar dinheiro uns aos outros. No mesmo mês, o American Home Mortgage, décimo maior banco hipotecário dos Estados Unidos, também declara moratória.
O banco britânico Northern Rock pediu e recebeu ajuda financeira emergencial do banco central. No dia seguinte, os correntistas retiraram cerca de US$ 2 bilhões, em uma das maiores fugas de capital da Grã-Bretanha.
No último mês de 2007, o presidente americano, George W. Bush, anunciou um plano para ajudar 1,2 milhão de pessoas com dificuldade hipotecárias. O Federal Reserve (FED, o banco central dos EUA) coordenou uma ação com outros cinco bancos centrais para enfrentar o problema de falta de dinheiro nos mercados.
A passagem do ano só fez com que os problemas na crise aumentassem. Fevereiro (2008) começou com a nacionalização, por parte do governo britânico, do banco Northern Rock. Em 17 de março de 2008, após forte queda de suas ações, o americano Bear Stearns, quinto maior banco dos EUA, foi vendido ao JP Morgan por US$ 236 milhões. Um ano antes da compra, o valor de mercado do Bear era de US$ 18 bilhões. A operação só foi concretizada após o FED ter aceitado financiar US$ 30 bilhões de ativos de menor liquidez da instituição com problemas.
Em busca de capital, o banco britânico Royal Bank of Scotland (RBS) anunciou o plano para levantar dinheiro junto aos acionistas, lançando novas ações no mercado, que chegaram ao valor 12 bilhões de libras (mais de R$ 41 bilhões), o maior lançamento de ações da história corporativa da Grã-Bretanha. Em ações similares, o UBS, um dos mais afetados pela crise financeira mundial, também lançou ações no valor de US$ 15,5 bilhões para cobrir parte de suas perdas, que chegaram a US$ 37 bilhões, e o Barclays também anunciou planos para levantar 4,5 bilhões de libras (cerca de R$ 15,4 bilhões) com lançamento de ações.
Em julho, o IndyMac Bancorp sofreu intervenção por parte de autoridades americanas. O banco viria a pedir proteção à lei de falências apenas três semanas depois. Em agosto, o HSBC alertou que as condições dos mercados financeiros são as mais difíceis "das últimas décadas", depois de sofrer uma queda de 28% em seus lucros semestrais.
No mês de setembro, o governo americano assumiu o controle das gigantes de financiamento de hipotecas Fannie Mae e Freddie Mac que, juntas, detinham quase metade dos US$ 112 trilhões em dívidas com hipotecas no país.
No mesmo mês, outras três grandes instituições financeiras envolvidas na crise de crédito tiveram destinos distintos. Depois da falha na busca por um comprador, o Lehman Brothers - 4º maior banco de investimento dos EUA - pediu concordata, afetado por perdas acumuladas de US$ 7,8 bilhões e uma carteira de ativos que ainda contava com US$ 54 bilhões em investimentos atrelados ao mercado imobiliário com risco potencial de difícil avaliação.
No mesmo dia, o Merrill Lynch, um dos principais bancos de investimento americanos, concordou em ser comprado pelo Bank of America por US$ 50 bilhões para evitar prejuízos maiores.
Um dia depois, a seguradora American International Group (AIG) recebeu um empréstimo de US$ 85 bilhões do governo americano para evitar um possível pedido de falência, após perdas de US$ 18,5 bilhões em três trimestres consecutivos. A empresa foi afetada por ter muitas apólices que protegiam bancos de perdas com investimentos de alto risco.
O banco Washington Mutual - maior de poupança e empréstimos nos EUA - também foi fechado pelo governo, na maior falência de um banco na história do país. Os ativos bancários da instituição foram vendidos ao JPMorgan Chase por US$ 1,9 bilhão. Segundo o órgão que fechou o Mutual, o banco tinha US$ 188,3 bilhões em depósitos e foi descrito como uma instituição de US$ 307 bilhões.
Ainda no mês de setembro, o FED aprovou a transformação dos dois últimos grandes bancos de investimento do país – o Goldman Sachs e o Morgan Stanley – em instituições comerciais
Setembro também marcou o alastramento da crise pelo setor bancário europeu com a nacionalização parcial do grupo belga Fortis, para garantir sua sobrevivência. Autoridades na Holanda, Bélgica e Luxemburgo aceitaram investir 11,2 bilhões de euros na operação.
Na Grã-Bretanha, o governo confirmou a nacionalização do banco de hipotecas Bradford & Bingley. O governo assumiu o controle de financiamentos e empréstimos do banco no valor de 50 bilhões de libras (cerca de R$ 171 bilhões) enquanto suas operações de poupança e agências foram vendidas para o Santander, da Espanha. Já o governo da Islândia assumiu o controle do terceiro maior banco do país, Glitnir, depois que a companhia teve problemas com fundos de curto-prazo.
Outro banco atingido fortemente pela crise, o americano Wachovia, teve sua compra pelo Wells Fargo referendada pelo FED, após uma disputa que também envolveu como possível comprador o Citigroup.

EUA lançam pacote de US$ 700 bilhões
Diante do aumento das perdas e a quebra de mais bancos, o governo americano resolveu elaborar, em setembro de 2008, um plano de ajuda às instituições financeiras. O pacote, delineado pelo Tesouro americano, foi destinado inicialmente para a compra de títulos podres ligados ao subprime, como forma de recuperar o seu valor e estabilizar os mercados.
No dia 28 de setembro, os líderes do Congresso dos EUA e da Casa Branca fecharam o acordo para a votação do plano, inicialmente na Câmara de Representantes (Deputados) e, dois dias depois, no Senado.
No dia seguinte, a câmara baixa do Congresso americano rejeitou o pacote, com extrema desaprovação entre os membros do partido Republicano - mesmo do presidente George W. Bush. Na esteira da rejeição, a Bolsa de Nova York caiu 6,98% e sofreu a, até então, maior queda em pontos de sua história.
Em meio a apelos diários do presidente americano, o Senado americano vota o plano de US$ 700 bilhões, mas com algumas modificações, como isenções fiscais, aumento das garantias de depósitos bancários particulares e a limitação nas remunerações de executivos de bancos beneficiados pelo pacote. O projeto aprovado na casa tinha cerca de 400 páginas, contra 100 páginas do original que foi rejeitado pelos representantes dois dias antes.
As medidas seriam mais tarde, no dia 3 de outubro (2008), referendadas pela Câmara de Representantes e sancionadas no mesmo dia pelo presidente americano.
Apesar de celebrado, o pacote não gera estabilidade nas bolsas de valores e requer medidas adicionais. Como parte da liberdade para destinar os recursos conforme a situação exigisse, o secretário do Tesouro, Henry Paulson, anunciou, na esteira de países europeus, que US$ 250 bilhões dos US$ 700 bilhões seriam usados pelo governo americano para recapitalizar os bancos do país - medida que foi aceita de início por nove grandes instituições financeiras dos EUA.

A reação européia
Vendo a situação nos mercados mundiais piorarem, na esteira de uma sucessão de quebras de bancos, em setembro (2008), e do efeito quase nulo do pacote dos Estados Unidos sobre as bolsas de valores, os países europeus começaram a trabalhar em medidas mais efetivas contra a crise financeira.
Inicialmente, foram tomadas medidas isoladas por alguns países, como a garantia ilimitada de todos os depósitos, papéis e dívidas dos bancos da Irlanda, concedida em 30 de setembro pelo governo do país.
A atitude irlandesa colocou outros países europeus sob pressão, pois a extensão das garantias aos depósitos particulares poderia gerar um efeito dominó, visto que na União Européia (UE) a circulação de capital é livre e as pessoas poderiam simplesmente retirar seu dinheiro e depositá-lo em países com as maiores garantias, complicando ainda mais a liquidez dos já combalidos bancos do continente.
O caráter integrado da economia e do sistema financeiro, conjugado com a ausência de uma autoridade comum, levou os países do bloco a manifestaram a intenção de tomar medidas em comum para amenizar a turbulência.
Depois da Irlanda, o Reino Unido anunciou, no dia 8 de outubro 92008), um plano de 50 bilhões de libras para recapitalizar os bancos do país.
Sob pressão do efeito abaixo da expectativa do pacote americano e reunidos em Paris, no dia 12 de outubro, os líderes dos 15 países que adotam o euro como moeda decidiram, além de garantir os empréstimos interbancários, recapitalizar os bancos do continente e assegurar que nenhuma instituição financeira quebrasse.
Além disso, eles acordaram que os países do bloco deveriam estender suas garantias para depósitos particulares a pelo menos 50 mil euros, ressaltando que alguns países garantiriam até 100 mil euros.
Ao longo da semana seguinte, Alemanha (500 bilhões de euros) e França (360 bilhões de euros), além de outros membros da UE, anunciaram planos para estabilizar seus mercados financeiros.

Os efeitos no Brasil
O agravamento da crise de crédito no exterior começou a ter reflexos nas economias emergentes, que antes eram tidas como "blindadas" contra a crise. No Brasil, em 24 de setembro, o Banco Central (BC) tomou sua primeira medida. A autoridade monetária brasileira adiou a implementação de um recolhimento compulsório, a ser feito em títulos federais, sobre leasing.
No começo de outubro, em face de uma retração mais severa de crédito, o BC decidiu flexibilizar a regra do recolhimento compulsório para depósitos bancários a prazo - apontada pelos bancos como justificativa para o spread bancário (diferença entre os juros de captação do dinheiro pelo banco e os que são cobrados a empresas e pessoas físicas). Na época, a medida foi apontada como capaz de irrigar a economia com até R$ 23,5 bilhões.
Dias mais tarde, o Banco Central modificou novamente as regras, autorizando as instituições financeiras a abater do volume do compulsório o valor das carteiras de crédito que venham a adquirir de outros bancos pequenos e médios (com patrimônio de referência de até R$ 2,5 bilhões).
Em face de uma queda de 15% no pregão da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), em 6 de outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em reunião Conselho Político da Coalizão (que reúne sua base de apoio no Congresso Nacional), decidiu editar uma medida provisória permitindo ao Banco Central comprar a carteira de crédito de bancos pequenos.
A medida serviria para evitar que as instituições financeiras, caso ocorressem problemas de liquidez, tenham de vender suas carteiras e preços irrisórios e assim evitar quebras como as vistas nos Estados Unidos.
No dia 13 de outubro, o BC editou nova circular, pré-disponibilizando de forma integral os recursos referentes a alguns recolhimentos compulsórios de depósitos bancários. A medida, com impacto potencial de R$ 100 bilhões, ficou condicionada às necessidades do mercado.
No dia seguinte, a autoridade monetária reduziu a alíquota do recolhimento compulsório sobre depósitos à vista de 45% para 42% - ação com impacto estimado de R$ 3,6 bilhões.
Além dos reflexos na concessão de crédito, o agravamento da crise financeira também trouxe turbulência na cotação do dólar ante o real. A moeda americana teve alta de cerca de 50% em relação à brasileira no espaço de dois meses (agosto, setembro e começo de outubro).
A escassez de dólares no mercado forçou uma atuação do BC, que passou a vender moeda das reservas internacionais, contratos futuros e com compromisso de recompra para tentar estancar a alta da divisa ante o real.
Bolsas registram perdas históricas
A venda de papéis atrelados ao mercado subprime, por parte dos bancos, como opções de investimento, trouxe pânico às bolsas de valores pelo mundo após o colapso deste segmento imobiliário, ocorrido principalmente nos Estados Unidos.
O agravamento da crise levou o Dow Jones, principal índice da bolsa de Nova York, a acumular perdas de cerca de 30% em 2008, além de quebrar dois recordes históricos: maior queda em pontos para um só dia (777,68 em 29 de setembro) e maior queda percentual desde o crash de 1987 (7,87% em 14 de outubro).
No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) perdeu a euforia com a conquista do investimento grade, por parte do País, no meio do ano. De seu pico, em 20 de maio, aos 73.516 pontos, o índice perdeu 50,49% até o fechamento do dia 17 de outubro, aos 36.399 pontos.
O vai-e-vem das expectativas, levadas pelos anúncios de pacotes de resgate do sistema financeiro pelo mundo, levou a bolsa brasileira a ter uma alta de 14,66%, em 13 de outubro, a cair 11,39% dois dias depois.
A pressão foi sentida em outros mercados, como o de Tóquio – também fortemente ligado a empresas exportadoras, onde a bolsa teve, em 8 de outubro, uma queda de 9,38% - a segunda maior da história. Na semana seguinte, em 16 de outubro, a bolsa japonesa voltou a tombar e a queda de 11,4% passou a ser a segunda maior do índice.
A crise financeira também teve reflexos na cotação do preço do petróleo, que, em 2008, tinha batido uma série de recordes históricos, chegando ao patamar de US$ 140. Com os temores de redução na demanda pela commodity, o barril passou a ser negociado próximo do patamar dos US$ 70 por barril, metade do pico de 2008.

A realização do novo Enem

Por: Maria Clara Machado

A proposta do Ministério da Educação para unificação do processo seletivo das instituições de ensino superior, em substituição ao atuais vestibulares, prevê a aplicação do novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em outubro. A proposta foi encaminhada na noite desta quarta-feira, 8, aos reitores das universidades federais.

Pelo texto, a instituições de ensino superior públicas e privadas poderão usar o novo Enem como parte de seu processo seletivo ou aderir ao Sistema de Seleção Unificada, em que o exame seria utilizado como fase única. A intenção é oferecer um sistema de avaliação que privilegie a capacidade crítica e analítica dos estudantes em detrimento dos atuais modelos de vestibulares que valorizam sobremaneira a memorização de conteúdos do ensino médio.

“O novo Enem combinará a forma de abordagem do atual Enem com a abrangência dos conteúdos cobrados pelo vestibular”, explicou Haddad. Para o ministro, a seleção pelo novo Enem permitirá reformular os conteúdos ensinados no ensino médio, que hoje estão pautados pelas provas dos vestibulares.

O novo Enem será composto de quatro grupos de testes de múltipla escolha realizados em dois dias. As provas ficariam distribuídas de acordo com as seguintes áreas: linguagens, códigos e suas tecnologias (incluindo redação); ciências humanas e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias, e matemática e suas tecnologias.

De acordo com a proposta, as instituições que aderirem ao sistema unificado poderão atribuir pesos diferentes às provas, a serem ponderadas de acordo com cada curso ofertado. As vagas para políticas afirmativas também serão consideradas pelo sistema que segmentará a inscrição do candidato, se for necessário, de acordo com sua opção de concorrência (se por políticas afirmativas ou ampla concorrência).

“O processo seletivo que propomos é dinâmico”, enfatiza o ministro. Haddad explica que o candidato poderá escolher entre cinco opções de cursos e instituições e poderá, de acordo com sua nota no novo Enem, simular sua posição no curso pretendido, em comparação às notas dos demais concorrentes. “Se durante as inscrições o aluno perceber que sua nota não é mais suficiente para entrar no curso escolhido, ele pode migrar para outro”, disse.

As instituições que optarem por aplicar mais de uma fase em seus processos seletivos não ofertarão suas vagas no sistema unificado, mas poderão usar as notas do Enem reformulado como parte de sua seleção com base em edital próprio.

De acordo com o ministro, uma reunião com os reitores das universidades para dirimir eventuais dúvidas relativas ao novo modelo de seleção deve ocorrer no início da próxima semana. A proposta prevê a aplicação do novo Enem nos dias 3 e 4 outubro e a divulgação das quatro provas de múltipla escolha em 4 de dezembro. A divulgação do resultado final, com a correção das redações, foi proposta para 8 de janeiro de 2010.

O Novo Enem

O fato alarmante é a proposta de unificação dos processos seletivos das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes). Efetivamente, a criação de uma prova única – o novo Enem –, que serviria como avaliação para o acesso à universidade.

Segundo o documento que contém a proposta, a ideia é permitir às 55 Ifes potenciais ganhos de um processo unificado de seleção e a possibilidade concreta de que a nova prova única “acene para a reestruração de currículos no ensino médio”.

Isso traz a quem está na “trilha” perturbações, porque o ano letivo já teve início e as projeções também, uma vez que os alunos começaram o 2009 com a programação de aulas, escolha do curso superior, já realizada pela maioria dos estudantes, além de inscrições nos concursos vestibulares e na prova do Enem, que é uma testagem relevante.

Nascido em 1998, sob a tutela do presidente Fernando Henrique e de seu ministro, atual secretário da educação de São Paulo, Paulo Renato Souza, o Enem preconizava a mudança gradativa, por habilidades e competências, das orientações curriculares de todo o ensino médio. A prova mostrou, por meio das suas 63 questões, o uso prático das 21 habilidades que poderiam servir como modelo para as universidades e em consequência para as secretarias de educação dos estados. Porém, isso não aconteceu. A adesão existiu, todavia, em tímida escala.

O documento entregue à Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Supeiro (Andifes) apresenta isso, pois deixa bem claro que as universidades, mesmo não querendo, pautam o ensino médio brasileiro. O que é lógico, uma vez que o estudante, além da propalada “preparação para vida”, precisa também de orientação para o vestibular. Não há vagas públicas para todos e obviamente os melhor preparados tendem a conquistá-las.

O Enem sobreviveu à gestão de Cristovam Buarque, no início do governo Luis, à de Tarso Genro, mais adiante, e agora convive com Fernando Haddad, no segundo mandato do presidente de honra do PT. Nesse período, a prova mudou pouco, embora se tenha percebido em 2007 uma facilidade enorme, o que proporcionou aumento geral de notas. O reverso da moeda se deu em 2008, com um exame mais equilibrado na área de exatas e equívocos nas ciências humanas. Conclusão: notas mais baixas.

E agora fala-se no novo Enem, misterioso e desafiador. O primeiro termo, o do mistério se deve a ausência, proposital ou não, de esclarecimentos práticos para os estudantes. Serão 200 questões em dois dias. Quais dias? Sábado e domingo? Se for assim, uma questão delicada paira no ar e precisa de resolução.

E os adventistas, que por força da compreensão religiosa não atuam em quaisquer atividades com a luz do sol do sétimo dia? É o caso de se pensar em uma prova especial. Todavia, o que incomoda mesmo é entender que estudantes, hoje mais de 8 milhões concluindo o ensino médio, sem mencionar a porcentagem egressos, submeter-se-ão a dois dias de prova e a 200 questões. Linguagens, códigos e suas tecnologias: 50 questões, possivelmente envolvendo Língua Portuguesa, Literatura e Língua Estrangeira Moderna – Inglês é o que está na proposta.

O estudante poderá optar pelo Espanhol? Na seqüência surgem as Ciências Humanas e as suas tecnologias, com História, Geografia e só. Ou necessariamente as valorosas Filosofia e Sociologia serão abordadas? Se essas disciplinas não constarem da prova, o retrocesso será grande e o descumprimento à própria legislação do MEC também. Outro “buraco negro”! Em tempo, vale ressaltar a existência de uma redação, registrada no texto do INEP/MEC, para o primeiro dia. Algo muito especial! Viva o uso de água mineral!

No segundo e último dia, 50 questões para as Ciências da Natureza e as suas tecnologias, certamente Biologia e Química e o final de tudo com a Matemática e as suas tecnologias, apresentando provavelmente a Matemática que pode vir solitária ou acompanhada da Física, que também é Ciência da Natureza. Quantas surpresas! Pensando na maior delas, pergunto: qual será o tempo dos estudantes para a execução de tais provas? Se forem 5 horas de prova, teremos 3 minutos por questão, sem contar o tempo da “gabaritagem”. Se forem 6 horas, 3,6 minutos por questão, sem gabarito. Ler todo o enunciado, refletir e escolher a,b,c,d,e em pouco mais do que três minutos. Muito esforço!

Com esse barulho, certamente o novo Enem será indiscutivelmente uma avaliação de esforço físico primorosa e declaradamente fadada a mudar no próximo governo, inclusive sob a batuta de um antigo maestro. Quem viver verá, até lá seguem as cobaias, melhor dizendo os alunos e o seu futuro.